quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

FAGUNDES VARELA


Luís Nicolau Fagundes Varela, nasceu na fazenda Santa Rita, município de Rio Claro, província do Rio de Janeiro, em 1841. Em 1859 transferiu-se para São Paulo, mas só conseguiu ingressar na Faculdade de Direito em 1862. Em São Paulo no curso prepara tório, começou sua obra literária e sua vida boêmia.
Em 1862 casou-se com Alice Luande, o primeiro filho deles Emiliano, faleceu no dia 11 de dezembro de 63 com apenas três meses de idade. O duro golpe inspirou-lhe “ O Cântico do Calvário”.
Tenta concluir o curso de Direito em Recife, mas a morte da esposa o faz retornar a São Paulo. Abandona então a faculdade e retorna para a fazenda onde nascera, desse momento em diante Varela passou a viver para a poesia .
No segundo casamento com Maria Belisária Lambert, teve duas filhas e um filho chamado Emiliano como o primeiro, que também faleceu prematuramente.
Assim desesperançado, o inditoso poeta faleceu em Niterói em 1875.
Na poesia de Fagundes Varela, podemos notar a tendência patriótica, a lírica e a religiosa. Nesses estilos o autor deixa clara a sua vocação poética.
A atmosfera romântica contribuiu para enquadrar a sua inspiração, estimulando-o a percorrer caminhos mais ou menos estabelecidos. Mas nosso poeta estava quase sempre ameaçado pelo álcool.
Com o poema “Cantos do Ermo e da Cidade”, revela-se então o poeta insatisfeito dentro da civilização das cidades, encontrando apenas a tranqüilidade e a paz na solidão de nossas matas.
O mais solitário de nossos poetas, nesta fase, atinge com o “Cântico do Calvário”, a culminância de sua poesia lírica.
Para Edgard Cavalheiro, “ O poema é no consenso unânime da crítica, perfeito. Elegia das elegias, Salmo dos Salmos, é bem o ponto máximo de sua obra, como a morte do filho foi a dor maior de sua vida”.
Varela foi o maior paisagista de nossa poesia; sentiu nossa natureza e cantou-a com perfeição admirável; soube dar-lhe um colorido real e uma vibração que somente sua alma sensível poderia interpretá-la. Foi também o maior artista do verso branco, os mais melodiosos e doces em língua portuguesa.
A última fase de sua obra é essencialmente mística e dentre seus poemas religiosos, “Anchieta ou o Evangelho nas Selvas” é sua obra-prima.

Segundo o crítico Antônio Carlos Secchin, Varela foi vítima do pouco caso dos críticos e historiadores, sendo assim, sua obra ficou diminuída diante de outros poetas da sua época tais como Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Gonçalves Dias entre outros.
Varela foi no Romantismo o último arcanjo revel. A impressão deixada por ele é, com efeito, de que nada fez senão beber, poetar, vaguear e desvairar-se.
Porém, não podemos esquecer a sua capacidade extraordinária de escrever longos poemas com “O Evangelho nas Selvas”.
Por ter vivido na última fase do Romantismo, absorveu várias tendências anteriores.
Varela não é um poeta fácil nem contraditório. É injusto inferir que, perdendo-se entre as correntes, nada mais tenha feito que continuá-las, sem manifestar uma equação pessoal.


Cântico do Calvário

À memória de Meu Filho
Morto a 11 de Dezembro
De 1863.

Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. – Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro
Eras a messe de um dourado estilo
Eras o idílio de um amor sublime
Eras a glória,- a inspiração, - a pátria,
O porvir de teu pai! – Ah! no entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Astro, - engoliu-te o temporal do norte!
Teto, caíste! – Crença, já não vives!...

Nesse famoso poema podemos perceber não só o impacto emocional, mas também o cunho simbólico, onde fundem a experiência imediata (perda do filho) e a vista por ele aberta sobre o mistério da criação poética, surgindo entre ambos a morte como intercessor.

A Flor do Maracujá

Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!
Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas de sereno
Nas folhas do gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá.

Pelas tranças da mãe-d’água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas pumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá.

Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!

Pelo mar, pelo deserto,
Pelas florestas, sinhá!
Pelas florestas imensas
Que falam de Jeová!
Pela lança ensangüentado
Da flor do maracujá

Por tudo que o céu revela!
Por tudo que a terra dá
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava está!!..
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!

Não se enjoem teus ouvidos
De tantas rimas em – a –
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!


Exaltação do bucólico, regionalismo, familiaridade, harmonia. Poema rústico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

grupogente.blogspot.com

Quem sou eu

Minha foto
Amo a liberdade acima de tudo, principalmente a de expressão. Defendo minhas idéias sempre.